terça-feira, 28 de maio de 2013

Na carne brasileira tem hormônios? NÃO.

É um mito muito comum achar que se usam hormônios na produção de animais, especialmente no frango. Mas isso não ocorre, e por vários motivos.

O frango hoje no Brasil é abatido em média com 42 dias de idade e com cerca de 2 kg. Cerca de 30 ou 40 anos atrás, um frango precisava de cerca de 6 meses para chegar ao mesmo peso, e ainda hoje os frangos caipiras ou de quintal levam quase isso para chegar nesse peso. As galinhas caipiras colocavam um ovo na vida e outro na morte e hoje uma poedeira comercial bota exatamente um ovo a cada 26 horas. Então as pessoas se perguntam o que aconteceu para que esse aparente "milagre" acontecesse e atribuem isso a algum "medicamento" miraculoso, ou hormônios.

Na realidade, o que aconteceu é que a indústria avícola dos EUA e Europa investiram milhões e milhões de dólares nos últimos 40 anos em pesquisas de melhoramento genético e nutrição. A linhagem dos frangos que vão para o abate em mais de 95% do país, e das poedeiras que colocam ovos, é hoje muito diferente das raças antigas que não tinham tanta seleção. Então não adianta pegar um frango caipira e dar pra ele a mesma ração que dão numa granja comercial e esperar que ele aos 42 dias pese 2 kg, por que ele não tem a mesma genética. Também não adianta pegar um frango de linhagem comercial e colocar no terreiro de casa dando só milho e esperar que ele também chegue nos 2 kg aos 42 dias de idade.

Então no caso do frango, o "milagre" se deve à duas coisas: muito investimento em melhoramento genético e nutrição. A nutrição de suínos e frangos hoje é de longe muito mais conhecida e estudada que a nutrição de humanos, só para se ter ideia. Pra quem é criador de cães é fácil entender: é só pensar na diferença entre os cães do canil que você mais admira da sua raça e dos cães da mesma raça sendo vendidos no pet shop da esquina. E também na diferença entre dar ração Biriba e Eukanuba rs

Fora isso, além de ser proibido no Brasil o uso de hormônios na produção, ficaria extremamente caro para o produtor usá-los. Hormônios são caros, caro o suficiente para inviabilizar o negócio. O frango brasileiro (carne de modo geral) é uma das carnes mais baratas do mundo, e se chega até nós, consumidores, pelo baixo preço que chega, depois de ter passado por vários intermediários (indústria, distribuidor, supermercados), imagine o preço que pagam ao produtor. Produtor rural brasileiro só ganha se produzir em grande escala, por que o preço pago a ele é mínimo e não dá margem pra nada que encareça o processo.

E não teria meios de aplicar hormônio no frango usando ração, o hormônio seria destruído no estômago e não faria efeito nenhum. Hormônio tem que ser aplicado por injeção na musculatura. Agora imagine um galpão de frangos com 5 mil frangos pra dar uma injeção em cada, sendo que as propriedades produtoras possuem geralmente vários galpões - é inviável. Fora que, os 40 dias de vida que um frango tem não são suficientes para o organismo absorver e utilizar o hormônio, que provavelmente formaria um abcesso e necrosaria o músculo, fazendo o frigorífico ter que jogar fora o local afetado. E como eu disse antes, o preço da carne de frango é tão barata que cada grama jogada fora pelo frigorífico faz falta para o produtor. E o frango de produção é um animal tão assustado, com um metabolismo tão acelerado, tão "nervoso" e estressado pelas condições que vive, que só do tratador entrar no galpão com uma camiseta de cor diferente da usual e berrante, cerca de 5% das aves podem morrer de ataque cardíaco fulminante. Imagine quantas não morreriam, não teriam asas e pés quebrados (e teriam que ser sacrificadas por isso) se alguém tentasse pegá-las para dar uma injeção, que mais provavelmente causaria uma necrose do que ganho de musculatura. Até para dar vacina em frangos se usa banho de aspersão ou pingam uma gota de vacina no olho assim que elas nascem, não usam injeções, mas não daria certo com hormônios isso.

TUDO na produção de frangos mostra que é inviável o uso de hormônios, tanto na execução quanto financeiramente.

Já no caso do boi, é um pouco diferente dos frangos, mas também não usam hormônios no Brasil, pelo mesmo motivo, custo.

Aqui no Brasil, a carne bovina também é extremamente barata, e o produtor só ganha dinheiro se produzir animais em escala. 96% dos bovinos brasileiros são criados exclusivamente em pastagens, que apesar de não propiciar o desenvolvimento mais rápido, o capim é praticamente de graça. Hormônio para crescimento só vale a pena quando a nutrição é excelente, e o pasto não é tão bom assim no Brasil. E também é proibido, se denunciarem pra algum órgão de vigilância o uso de hormônios em algum lugar, o criador/empresa está ferrada.

Na Europa e EUA é muito mais comum e mais liberado o uso de hormônios, por que lá vale a pena. Uma fazenda de criação de gado na Europa é do tamanho de um sitiozinho no Brasil. Eles não conseguem produzir alimento em quantidade suficiente dentro da fazenda, e em alguns lugares neva vários meses por ano, eles precisam comprar ração - milho e soja, que são bem caras mas são de melhor qualidade que o capim e fazem o animal crescer mais rápido. Como lá o produtor recebe muito mais por quilo de carne do que o produtor aqui, pra eles cada quilo de carne a mais que o boi produzir, compensa, mesmo o hormônio sendo caro. Por que apesar do que as pessoas acham, o hormônio somente aumenta um pouco o ganho de musculatura, não faz milagre. Se o animal tem genética ruim, ou a alimentação é ruim, o hormônio só melhora um pouco isso.


Texto de autoria de Thaís Rodrigues dos Santos, apaixonada por cães, adestramento e nutrição, cursando o último ano de Zootecnia na USP.

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